"Thylacosmilus atrox" (à direita) tinha o maior canino entre as espécies
primitivas dos dente-de-sabre, com as raízes chegando até a caixa
craniana, mas não a maior potência. Segundo pesquisa da Universidade de
New South Wales, na Austrália, criatura que habitou a América Latina há
3,5 milhões de anos tinha uma mordida mais fraca do que a de um gato
doméstico e seus dentes eram frágeis / Divulgação
Um grupo de pesquisadores da Austrália e dos Estados Unidos deu um passo importante na compreensão do comportamento de caça do Thylacosmilus atrox,
espécie pré-histórica de dente-de-sabre que habitou a América Latina,
sobretudo a região da Argentina, há 3,5 milhões de anos.
Com base em
modelos computacionais 3D, eles examinaram o desempenho biomecânico do
animal ao atacar suas presas. Esses modelos foram digitalizados e, em
seguida, submetidos a um software que simulou a força de sua mordida.
Os resultados foram comparados com os do Smilodon fatalis, o
famoso tigre-dente-de-sabre extinto há 10 mil anos, e do leopardo que
conhecemos hoje.
O grupo concluiu que a musculatura da mandíbula das
duas espécies com dentes-de-sabre eram menos potentes quando comparadas à
do leopardo, mas a do Thylacosmilus atrox surpreendeu.
Mesmo
com seu grande porte - 1,5 metro e 100 quilos - e dos enormes dentes
caninos superiores, sua mordida era tão ou mais fraca que a de um gato
doméstico.
A falta de força era compensada, porém, pelos músculos de seu pescoço,
responsáveis pela movimentação de seus dentes gigantescos.
"Os músculos
da mandíbula do T. atrox eram constrangedores", afirma Stephen Wroe,
pesquisador da Universidade de New South Wales, na Austrália, e autor
principal do estudo publicado na revista PLoS One.
"Mas seu desempenho
biomecânico durante as simulações sugere que ele, assim como o Smilodon fatalis, era bem adaptado às forças geradas pelos músculos de seu pescoço."
O autor explica que os enormes dentes eram frágeis, apesar de as raízes
se estenderem até a caixa craniana.
Por isso, o animal pré-histórico
precisava abater suas presas rapidamente para não comprometer seus
caninos - o T. atrox tinha de imobilizá-las usando os
antebraços.
Em seguida, em uma mistura de força e precisão, usava sua
poderosa musculatura e inseria os dentes na traqueia da vítima,
atingindo suas artérias.
"Presas de grande porte são perigosas, mesmo para superpredadores. Por
isso, quanto mais depressa elas são abatidas, menores serão as chances
de o predador se machucar ou de atrair a atenção de outros
concorrentes", disse o pesquisador.
Apesar da semelhança, o T. atrox não tem parentesco evolutivo com o Smilodon fatalis, o representante máximo dos mamíferos superpredadores.
Na verdade, explica Wroe, o Smilodon
é resultado de pelo menos cinco "experimentos" independentes
registrados na história evolutiva dos dentes-de-sabre no decorrer da Era
dos Mamíferos, que se estende por cerca de 65 milhões de anos.
"Essas duas espécies estão separadas por pelo menos 125 milhões de anos
de evolução", afirma Wroe. Trata-se de um caso clássico de convergência
evolutiva, fenômeno em que duas ou mais espécies, independentemente,
desenvolvem características semelhantes.
"Sabe-se hoje que, do ponto de
vista evolutivo, os T. atrox tem os marsupiais como parentes mais
próximos."
Fonte: UOL
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