Durante milhares de anos, os animais gigantes
fertilizaram a bacia amazônica ao espalhar nitrogênio, fósforo e outros
nutrientes contidos em seus excrementos, antes de desaparecerem
abruptamente, privando definitivamente a região deste aporte maciço de
adubo, indica um estudo publicado neste domingo na revista Nature
Geoscience.
No período do Pleistoceno, a América do Sul se parecia
muito com a savana africana atual. E os dinossauros, há muito tempo
desaparecidos, deram lugar a uma megafauna impressionante: mastodontes,
antepassados dos elefantes, preguiças gigantes de cinco toneladas e os
gliptodontes, tatus do tamanho de um pequeno carro.
Predominantemente herbívoros, estes mamíferos gigantes
consumiam quantidades importantes de vegetais, absorvendo nitrogênio e
fósforo que liberavam nas fezes e na urina por onde passavam.
Segundo
este estudo, eles também contribuíram para redistribuir em distâncias
muito grandes ao longo do tempo este adubo natural nos solos que de
outra forma permaneceriam estéreis, particularmente na bacia amazônica.
Mas o que aconteceu depois que esta megafauna
desapareceu há 12 mil anos, depois de uma extinção em massa
provavelmente vinculada a uma mudança climática e às atividades humanas?
Segundo cálculos dos pesquisadores, a dispersão do adubo
cessou rapidamente, limitando-se aos sedimentos transportados dos Andes
por meio dos rios e ribeirões.
Segundo o modelo matemático desenvolvido
por eles, a dispersão de fósforo na bacia amazônica teria, desta forma,
despencado 98%.
"Em outras palavras, os grandes animais são como as
artérias de nutrientes para o planeta e se eles desaparecem, é como
cortar estas artérias", resumiu o principal autor do estudo, Christopher
Doughty, da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha.
"Foi porque a maioria destes animais desapareceu que o
mundo tem muito mais regiões pobres em nutrientes do que teria tido caso
contrário", afirmou o pesquisador à AFP.
O estudo se concentrou na Amazônia, mas o estudioso
considera provável que estas transferências de nutrientes tenham
ocorrido em todo o continente sul-americano, também na Austrália e em
outras regiões do planeta. E toda vez, estas transferências foram
interrompidas com o desaparecimento da megafauna.
"Mesmo que 12 mil anos seja uma escala de tempo que não
tenha grande sentido para a maioria das pessoas, com este modelo nós
mostramos que as extinções que ocorreram na época continuam a afetar
atualmente a saúde do nosso planeta", afirmou Doughty.
Segundo ele, o modelo concebido para o estudo pode ser
adaptado ao nosso mundo moderno. "Nós podemos atualmente estimar os
efeitos de longo prazo na fertilidade do solo se animais como os
elefantes desaparecessem", disse.
"Se os humanos contribuíram para a extinção em massa dos
animais gigantes 12 mil anos atrás, então nós podemos concluir que eles
começaram a afetar o meio ambiente muito antes do surgimento da
agricultura", argumentou Adam Wolf, pesquisador em Ecologia da
Universidade de Princeton, nos EUA, que participou do estudo.
Fonte: Terra
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