Pode existir uma explicação científica para as intensas experiências de
quase morte, tais como ver uma luz brilhante, que algumas pessoas
contam vivenciar após sobreviver, por exemplo, a uma parada cardíaca,
afirmaram cientistas na segunda-feira (12).
De acordo com um estudo publicado na revista Pnas (Proceedings of the National Academy of Sciences), aparentemente, o cérebro continua funcionando até 30 segundos depois que o fluxo sanguíneo é interrompido.
Cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, estudaram
nove ratos de laboratório que foram anestesiados e, então, sujeitos a
uma parada cardíaca induzida como parte do experimento.
Nos primeiros 30 segundos depois que seus corações pararam, todos os
animais demonstraram um aumento da atividade cerebral, observada em
eletroencefalogramas (EEGs) que indicaram estados mentais altamente
excitados.
"Ficamos, então, surpresos com os níveis de atividade", disse o autor
principal do estudo, George Mashour, professor de anestesiologia e
neurocirurgia da Universidade de Michigan.
"De fato, na quase morte, muitas assinaturas elétricas conhecidas de
consciência excedem os níveis encontrados no estado de vigília,
sugerindo que o cérebro é capaz de realizar atividade elétrica bem
organizada durante o estágio inicial da morte clínica", acrescentou.
Resultados semelhantes em termos de atividade cerebral foram observados
em ratos quando asfixiados, acrescentaram os cientistas.
"Este estudo nos diz que a redução tanto do oxigênio quanto da glicose
durante uma parada cardíaca podem simular a atividade cerebral que é
característica do processo consciente", explicou outra autora do estudo,
Jimo Borjigin.
"Ele também fornece o contexto científico para as experiências de quase
morte reportadas por muitos sobreviventes de paradas cardíacas",
acrescentou.
Cerca de 20% das pessoas que sobrevivem a paradas cardíacas contam ter
tido visões durante um período conhecido pelos médicos como de morte
clínica.
Borjigin disse esperar que o estudo de sua equipe "vá assentar as bases
para estudos humanos futuros que investiguem as experiências mentais
que ocorrem em um cérebro que está morrendo, inclusive o avistamento de
luz durante a parada cardíaca".
A corrente científica dominante costuma considerar que o cérebro
permanece inativo durante este período e alguns especialistas questionam
quanto um estudo sobre ratos pode realmente revelar sobre o cérebro
humano.
"Sabemos se os animais experimentam a 'consciência'? A maioria dos
filósofos e dos cientistas ainda discordam sobre o que este termo diz
respeito nos humanos, quanto mais em outras espécies", afirmou David
McGonigle, conferencista na Universidade Cardiff, no Reino Unido.
"Enquanto pesquisas recentes sugerem que animais podem, de fato, ter o
tipo de memória autobiográfica que os seres humanos possuem - com
lembranças que permitem nos situar em determinado tempo e espaço -, em
parte, parece improvável que as experiências de quase morte sejam
necessariamente similares entre as espécies", acrescentou.
Anders Sandberg, pesquisador da Universidade de Oxford, também no Reino
Unido, descreveu a pesquisa como "simples" e "bem feita", mas pediu
cautela ao interpretar os resultados.
"O EEG nos diz coisas sobre a atividade cerebral um pouco como ouvir o
barulho do trânsito diz o que está acontecendo em uma cidade. Certamente
é informativo, mas também uma média de grande interação individual",
acrescentou.
"Não duvido que algumas pessoas vão alegar que seja uma evidência da
existência de vida após a morte, o que é duplamente tolo. Experiências
de quase morte são apenas experiências", afirmou. "Mas se alguém
acredita nisso, então devíamos concluir que a vida após a morte inclui
muitos ratos de laboratório."
Fonte: UOL
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