Montagem de fotos do satélite Soho, da Nasa, mostra o cometa Ison após
sua aproximação máxima do Sol; parte do seu núcleo pode ter sobrevivido
ao encontro solar
O cometa Ison está se mostrando tão misterioso na volta do Sol quanto na ida. Depois de declará-lo morto, os cientistas voltaram atrás e agora dizem que pelo menos um pedaço dele sobreviveu.
A essa altura, já se pode descartar que ele vá produzir um espetáculo
visual incrível para os observadores da Terra, como se esperava --o Ison
estava sendo chamado de "cometa do século". Mas só o fato de ele seguir
existindo já intriga os cientistas.
Poucas horas antes de atingir o periélio (aproximação máxima do Sol), às
16h25 de anteontem, o cometa --objeto cujo núcleo é composto de gelo e
pedra-- começou a perder brilho rapidamente.
Esse comportamento é consistente com a fragmentação do núcleo. Se estivesse em um pedaço só, seu brilho deveria ter aumentado.
A tese foi reforçada quando o SDO (Solar Dynamics Observatory), satélite
da Nasa, foi apontado para observar a passagem do Ison e não registrou
nada pelo caminho.
Então foi surpreendente quando imagens do Soho (outro satélite solar,
mantido em parceria entre a ESA, agência espacial europeia, e a Nasa)
revelaram, na madrugada de ontem, que o Ison teria reemergido do outro
lado do Sol.
De início, os cientistas interpretaram a imagem como uma trilha de
poeira e gás deixada pelos restos do cometa, mas, quando o objeto foi
aumentando de brilho, eles tiveram de ceder. À 0h49 de ontem, Karl
Battams, coordenador da campanha de observação da Nasa, afirmou:
"Acreditamos que parte do núcleo do Ison tenha sobrevivido ao periélio."
CONFUSÃO
Enquanto o Ison se prepara para sair do campo de visão do satélite Soho e
se afastar do Sol, os cientistas terão tempo de analisar os dados e
concluir o que houve.
Segundo Ignacio Ferrín, especialista em cometas da Universidade de
Antioquia, na Colômbia, o núcleo do Ison teria de fato se desintegrado,
antes mesmo da aproximação máxima do Sol.
Usando imagens de um dos satélites Stereo, que monitoram o Sol, ele
calculou o período de rotação do cometa pouco antes de sua passagem a
1,2 milhão de km do Sol.
Ferrín concluiu que o cometa dava uma volta em torno de si mesmo a cada
2,38 horas. Segundo outros estudos, o limite de estabilidade da rotação
de um objeto desse tipo seria de, no mínimo, 3,3 horas. "Portanto, o
cometa excedeu o limite de estabilidade rotacional, e a razão da
fragmentação foi 'quebra rotacional'", diz Ferrín.
Contudo, caso essa conclusão se mostre equivocada, não será a primeira
do cientista colombiano sobre o Ison. Ele também previu que o cometa
iria "murchar" bem antes de atingir o periélio, o que não aconteceu.
Os cientistas da Nasa agora estão cautelosos. Não dizem nem se o que
restou do Ison terá longevidade, nem se será visível da Terra.
Observações telescópicas a partir do solo devem ser possíveis lá para o
dia 5 de dezembro. Pelo menos até então, teremos de aguardar o desfecho
dessa eletrizante aventura científica.
Fonte: Folha de São Paulo
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