A verdadeira causa da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek,
também conhecido como JK, foi revelada nesta terça-feira, quase 40 anos
depois da noticia mentirosa de que ele teria sido vítima de um acidente de carro, em 1976.
A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, nominada “Comissão
Vladimir Herzog”, declarou que não há dúvidas de que JK foi assassinato
pela ditadura militar dos anos 70.
O relatório, apresentado nesta terça-feira, tem mais de 90 indícios,
evidências e provas de que o JK não sofreu apenas um acidente de carro
em 22 de agosto de 1976, durante viagem de carro na Rodovia Presidente
Dutra, no Rio de Janeiro.
"Não temos dúvida de que Juscelino Kubitschek foi vítima de
conspiração, complô e atentado político. Há provas documentais e
testemunhos importantes, em mais de 29 páginas do relatório”, conta
Gilberto Natalini.
Depoimentos
Há cerca de um mês e meio, a Comissão da Verdade ouviu o depoimento
do motorista Josias Nunes de Oliveira, hoje com 69 anos, apontado
durante a Ditadura como o responsável pelo acidente que provou a morte
do ex-presidente.
Na ocasião do depoimento, Oliveira disse que depois do acidente
dois homens ofereceram, na delegacia e na casa dele, dinheiro para que
assumisse a culpa pelo acidente de 76.
O motorista dirigia o ônibus Cometa que bateu contra o carro do
ex-presidente, matando Kubitschek e o motorista do carro, Geraldo
Ribeiro, que na época dirigia o Chevrolet Opala adorado pelo
ex-mandatário brasileiro.
“Eles foram na minha casa e disseram que se eu não aceitasse o
dinheiro e assumisse a culpa, eles bateriam em mim”, declarou aos
vereadores Josias Nunes de Oliveira.
Além de Josias, a Comissão Municipal ouviu Serafim Jardim, que era
secretário particular de Juscelino naquela ocasião; Paulo Castelo
Branco, que solicitou a reabertura das investigações do caso em 1996;
Paulo Oliver, um dos 33 passageiros do ônibus dirigido por Oliveira; e
Gabriel Junqueira Villa Forte, filho do proprietário do hotel no qual o
ex-presidente ficou hospedado antes do acidente fatal daquela noite.
No depoimento dado à comissão em Agosto, Serafim Melo Jardim disse ter certeza de que JK vinha sendo vigiado.
"Acompanhei o presidente desde que voltou do exílio. Sempre que
viajávamos ele dizia: "Estão querendo me matar", afirmou o
ex-secretário, que acompanhou JK durante os últimos nove meses de vida.
Fraudes
Na época do acidente, Juscelino Kubitschek tinha 73 anos e havia
recuperado os direitos políticos cassados pelo regime militar pouco
tempo antes.
Ele sempre foi tido como “inimigo dos militares” e “ameaça” à estabilidade política daquele período.
Segundo o vereador Gilberto Natalini, a partir desses quatro
depoimentos a Comissão começou a investigar o caso e chegou ao
veredicto: “Em cima desses depoimentos, fomos atrás de documentos que
comprovassem as informações. Descobrimos laudos falsos, erros
processuais e de perícia que nos levaram a declarar que Juscelino
Kubitschek fora vítima de uma conspiração”, afirma o presidente da
comissão.
Os documentos que comprovam a linha de raciocínio defendida pela
comissão paulistana serão apresentados nesta terça-feira, na Câmara.
A partir do momento que o relatório for público, a Comissão
Vladimir Herzog deve encaminhar os documentos para Brasília, no intuito
de que a Comissão Nacional da Verdade também declare o assassinato de
Juscelino Kubitschek.
“É um caso de Justiça para com os brasileiros, a família do
ex-presidente e a história do nosso país”, aponta Natalini, que também
já foi perseguido político, torturado pelos militares na época do regime
de exceção pela operação Oban.
Retificação
O grupo pedirá ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal
(STF) e à Presidência da República que retifiquem a causa mortis de JK.
"Vamos pedir uma nova exumação dos ossos de Ribeiro", afirmou o
vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da Comissão. A primeira
exumação foi feita em 14 de agosto de 1996.
Em depoimento que consta do relatório, o perito criminal Alberto
Carlos de Minas declarou ter visto um furo no crânio do motorista com
"característica de buraco provocado por projétil de arma de fogo".
Na ocasião, segundo o perito, as autoridades de Minas Gerais teriam
proibido que ele fotografasse o crânio, alegando que ele estaria
"esfacelado".
Fonte: Band
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