Tamanduás-bandeira mataram dois caçadores em incidentes separados no
Brasil, despertando a preocupação relacionada à perda de habitat do
animal e ao risco crescente de encontros perigosos com pessoas,
afirmaram cientistas.
Os mamíferos de focinho longo e pelagem densa não costumam ser
agressivos com seres humanos e são considerados uma espécie vulnerável
pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),
sobretudo devido ao desmatamento e a assentamentos humanos que invadem
seu território.
No entanto, eles têm visão restrita e, quando assustados, podem se
defender com as garras dianteiras, que são tão longas quanto canivetes.
Os estudos de caso de dois ataques fatais de tamanduás gigantes foram
descritos na revista Wilderness and Environmental Medicine, que
divulgou o artigo este mês na internet, antes de sua publicação em
versão impressa, prevista para dezembro.
"Ambos eram fazendeiros, estavam caçando e foram atacados por animais
feridos ou encurralados", explicou à AFP o principal autor do estudo,
Vidal Haddad, da Escola de Medicina da Universidade do Estado de São
Paulo, em Botucatu.
No primeiro caso, um homem de 47 anos estava caçando com os dois
filhos e seus cães quando deram de encontro com um tamanduá-bandeira na
cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre. O caçador não atirou no animal, mas
se aproximou dele exibindo a faca.
O tamanduá ficou de pé nas patas traseiras e agarrou o homem com as
dianteiras, causando ferimentos profundos em suas coxas e braços.
O caçador sangrou até a morte no local do ataque, acrescentou o
artigo, destacando que o trágico encontro ocorreu em 1º de agosto de
2012, mas não tinha sido descrito na literatura científica até agora.
O outro caso ocorreu em 2010 com um homem de 75 anos, em Jangada, no
Mato Grosso. Ele morreu quando um tamanduá usou suas longas garras
dianteiras - que costumam auxiliá-lo a cavar na busca por formigueiros -
para perfurar sua artéria femural, situada entre a virilha e a coxa.
"Estes ferimentos são muito sérios e não tenho forma de saber se foi
um comportamento de defesa adquirido pelos animais", disse Haddad, que
assina o artigo junto com Guilherme Reckziegel, Domingos Neto e Fábio
Pimentel.
Ele ressaltou que esses ataques são raros, mas disse que são
importantes porque revelam a necessidade de as pessoas darem mais espaço
aos animais selvagens.
- Fáceis de assustar -
Acredita-se que os tamanduás-bandeira ("Myrmecophaga tridactyla")
estejam extintos em Belize, El Salvador, Guatemala e Uruguai. Existem
5.000 na natureza e podem ser encontrados em algumas regiões da América
Central e do Sul.
No total, sua população caiu cerca de 30% na última década devido à
perda de habitat, a atropelamentos, caça, incêndios florestais e à
queima de plantações de cana-de-açúcar, segundo a IUCN.
Eles têm entre 1,2 e 2 metros e podem pesar até 45 quilos.
A especialista em tamanduás Flavia Miranda, que trabalha com estes
animais no Brasil, manifestou sua preocupação com o fato de o artigo
causar mais problemas para uma criatura que já enfrenta várias ameaças à
sua sobrevivência.
"Nós temos um monte de problemas com essa espécie porque as pessoas
acreditam que os animais trazem má sorte e os matam de propósito",
explicou em e-mail enviado à AFP.
"Mas eu compreendo a importância do artigo porque recentemente também
tive um incidente com um tamanduá gigante que quase me custou a vida",
concluiu.
Os tamanduás-bandeira comem principalmente insetos, mas também
apreciam laranjas e abacates, segundo a cuidadora Rebecca Lohse, que
trabalha com estes animais em cativeiro no Zoológico Reid Park, em
Tucson, Arizona.
"São animais que podem se assustar subitamente. Aviões passando,
serras elétricas e sopradores de folhas podem assustá-los", afirmou.
"A forma como se defendem é ficando de pé nas patas traseiras e agitando as dianteiras", explicou. "Eles têm antebraços incrivelmente fortes e as garras têm vários
centímetros", acrescentou, destacando que os cuidadores costumam evitar o
mesmo espaço dos animais, conduzindo-os para áreas cercadas diferentes
quando se aproximam para limpar seus recintos.
Fonte: Yahoo!
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