sábado, 29 de agosto de 2015

Brasília: Segundo vizinhos, é possível escutar sussurros e passos no apartamento de casal assassinado



Sem desfecho, crime continua sendo um mistério. Filha é a principal suspeita da morte dos pais. Há quem diga que elevador volta e meia vai parar no sexto andar, sem ninguém apertar o botão.


Adriana Villela tem 51 anos e possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB). A arquiteta também é mestre em Desenvolvimento Sustentável. Hoje, ela mora no Rio de Janeiro e atua principalmente nos seguintes temas: reciclagem de vidro, sustentabilidade e seguidas tentativas de provar sua inocência. 


Em 2009, Adriana foi apontada como a principal suspeita pela morte dos seus pais, José Guilherme Villela, de 73 anos, a também advogada Maria Carvalho Villela, de 68, e a empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, de 58. Desde então, tornou-se figura central em uma história que tem até vidente. Menos desfecho.
Seis anos após o triplo homicídio na 113 Sul, o caso permanece obscuro. Apontada pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) como mandante do assassinato dos pais e da empregada deles, Adriana Villela ainda luta para provar a consistência de sua versão. 


Tanto ela quanto Paulo Cardoso, acusado de participação nas mortes, aguardam julgamento no tribunal do júri popular. E, vale lembrar, a ela ainda cabem mais recursos. Seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, assegura que o álibi da arquiteta é inquestionável e diz: “Acho que estamos no melhor momento do processo”.


Enquanto isso, Adriana vive entre a sombra de ser a principal suspeita da morte dos pais e a aparente saudade deles. No Facebook, a filha  do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) coloca imagens de praias, viagens, amigos e, inclusive, dos pais. 


Em maio, ela chegou a postar uma foto de sua mãe. “Vai ser bonita assim lá em casa, mãe”, escreveu. Em outros momentos, defende-se das acusações. “Nenhuma calúnia, por maior que seja, pode calar a semente dessa verdade viva em mim”, publicou.


Longe da cena do crime que chocou a capital federal pela crueldade, Adriana parece tentar reconstruir sua vida. De acordo com o advogado da arquiteta, hoje, ela vive de forma simples. 




“Costumo dizer que Adriana morreu duas vezes: quando viu a morte de seus pais, com facadas, de uma forma terrível e, depois, quando foi acusada de forma irresponsável”, salienta Kakay. “Ela tem o temperamento próprio dos pais dela. Está com bastante fé no julgamento. É uma pessoa independente. Optou por sair de Brasília até o julgamento”, afirma ainda. “Temos convicção de provar inocência dela”, salienta.


Em abril deste ano, a 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do DF julgou recurso de Adriana e Paulo Cardoso. Na sessão, garante Kakay, foram apresentadas provas que contrariam as versões dadas pelos outros envolvidos, que apontam para a culpa de Adriana. 


Reconstituição


“Conseguimos reconstituir o dia desde a hora em que ela acordou até a hora em que voltou pra casa. Inclusive, através de provas testemunhais. Tinha gente que viu ela no curso, que esteve com ela na casa de uma amiga. E, também, pelo cartão de crédito, que comprovou que, naqueles horários, ela estava na padaria. Nos lugares em que ela sempre disse que esteve. Conseguimos fazer uma prova negativa”, explica o advogado.


Segundo ele, o Ministério Público partiu do pressuposto de que Adriana poderia até ter almoçado na casa dos pais no dia do crime, em 28 de agosto de 2009. “E, inclusive, a prisão dela na primeira vez foi porque eles disseram que ela não tinha álibi às 22h naquele dia”. No entanto, salienta, “nós conseguimos localizar um e-mail que ela passou de casa às 22h17”. 


Memória


 Em 31 de agosto de 2009, um forte cheiro tomava conta dos corredores do sexto andar do bloco C da 113 Sul. O odor ainda vive na memória de muitos moradores. Na época, o zelador chegou a sugerir ao síndico que trocasse de desinfetante, na tentativa de sanar o problema.


Na mesma data, a neta do casal, Carolina, decidiu ir à casa dos avós, que não atendiam ao telefone. Acompanhada de três amigos policiais, ela chamou o chaveiro, abriu a porta e encontrou os corpos de Maria, José Guilherme e Francisca. O cheiro que tomava conta do andar vinha deles, assassinados três dias antes, em 28 de agosto.


Segundo laudo do Instituto Médico-Legal (IML), foram 78 facadas. A empregada da família, Francisca, levou 23 golpes nas costas. Maria, agarrada por trás, teria levado 12 punhaladas. José Guilherme recebeu o maior número: 38 ao todo.


Da casa, os criminosos roubaram dinheiro e jóias que a família escondia em caixas de uísque e fundos falsos de armários. Mesmo assim, eles deixaram para trás quase US$ 100 mil, achados na perícia.


"Prova negativa dos fatos"


No julgamento, conta ainda o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o desembargador Mário Machado divergiu dos outros julgadores em relação à pronúncia da arquiteta. “Ele é uma pessoa muito respeitada. É muito técnico. E nós fizemos a prova negativa dos fatos”, salienta.


No site do Tribunal de Justiça, a sessão é descrita em uma matéria do dia 23 de abril deste ano. Nela, é possível constatar o posicionamento de Mário Machado. 


“Ele concluiu que a defesa de Adriana conseguiu fazer a prova negativa dos fatos, demonstrando por meio de documentos, obtidos por meio das quebras dos sigilos bancário, telefônico, bem como de testemunhos em juízo, que a ré não estava no apartamento dos pais no momento do crime e que não fez contato telefônico com Leonardo no dia dos fatos", narra a publicação. 


Para o Ministério Público, que sustenta a acusação de Adriana, os principais indícios contra ela são o depoimento de testemunhas e duas cartas encontradas pela polícia em que Adriana rompe relações com Maria Villela. 


As desavenças entre mãe e filha seriam causadas por “conflitos por dinheiro”. Com 45 anos, a arquiteta ainda dependia de uma mesada de R$ 8 mil para pagar suas contas pessoais. Por conta disso, Maria deixava claro o que esperava da filha, reprovava algumas amizades e o suposto uso de maconha.


Amigos e vizinhos


Além dos familiares, os amigos de Adriana dão total apoio à versão que ela sustenta. Nas vezes em que expõe o caso no Facebook, alguns comentam e dizem ter certeza de que a arquiteta jamais mandaria matar seus pais e a empregada da casa. 


No entanto, o mesmo posicionamento não é mantido por aqueles que foram vizinhos dos pais de Adriana. No bloco C da quadra 113 Sul, apesar da discrição, é evidente que o triplo homicídio mexeu com a vida de todos. Agora, para entrar nas portarias que dão acesso aos apartamentos, é necessário passar pelo arsenal de segurança, que exige o reconhecimento de digitais.


Revolta dos moradores


Os moradores, que preferem não comentar oficialmente os assassinatos, deixam escapar a revolta por verem a filha do casal Villela ainda solta. “Não quero comentar sobre isso porque não acredito mais na Justiça”, diz um senhor. 


Uma senhora vê a equipe do Jornal de Brasília e diz em voz alta: “Já faz seis anos que isso aconteceu e nada foi feito. É um trauma para todos. Mostra que dinheiro compra a Justiça”.


Apartamento vazio e mal-assombrado


Um dos porteiros do prédio, Marcus, que já trabalhava no local na época do crime, não diz nada. Segundo ele, o que todos sabem é o que a mídia mostra. O apartamento dos Villela, garante, continua igual. Porém, vazio. Do alto do prédio, claramente dá para ver que o imóvel está totalmente desocupado. 


Há rumores de que Adriana retirou todos os móveis do apartamento. A informação, contudo, também não foi confirmada pelo porteiro e nem pelo síndico, que preferiu não estender o assunto. São muitas dúvidas, muitas supostas verdades e poucos esclarecimentos. Na mesma tragédia em que até uma “adivinha” foi protagonista, não faltam elementos de um filme de suspense.


Passos pela casa


Há quem diga que os passos de Maria dentro de casa ainda podem ser ouvidos. A advogada costumava usar tamanco dentro do apartamento. Sussurros, vultos e um elevador que, volta e meia, vai parar no sexto andar, sem ninguém apertar o botão. 


“Já aconteceu comigo e mais de uma vez”, diz uma moradora do prédio. Dizem até que a própria Adriana teria levado um padre para benzer o apartamento 601/2. Nada incomum para uma história cuja vidente, agora, caça fantasmas.


Poderes paranormais


Rosa Maria Jaques, a vidente que na época previu, com seus poderes paranormais, onde estavam as peças fundamentais para o esclarecimento do crime, hoje tem uma empresa de caça fantasmas. 


Durante as investigações, ela disse à delegada Martha Vargas, que cuidava do caso, ter recebido do mundo dos espíritos a missão de ajudá-la.


"Visão" atrapalha o caso

 
No mesmo dia em que a vidente Rosa Maria Jaques disse à delegada Martha Vargas, que cuidava do caso, ter recebido do mundo dos espíritos a missão de ajudá-la, ela, a delegada, o marido dela, e o agente policial José Augusto Alves foram ao apartamento do casal Villela. Lá, a mulher afirmou ter tido uma visão: descobriu onde morava o assassino.


A história, porém, caiu por água abaixo. Tudo não passou de uma armação para atrapalhar o esclarecimento do caso. Segundo a polícia, Rosa Maria Jaques embarcou no aeroporto de Brasília dois meses depois do crime e só foi falar com a então delegada do caso dez dias depois. 


De acordo com a polícia, a vidente se encontrou com Adriana Villela, filha do casal assassinado, para combinar a farsa. As duas negam o encontro. Mas uma testemunha teria afirmado que elas tinham até uma “certa intimidade na conversa”.


Suspeitas


Passados seis anos do triplo homicídio, nem a vidente e nenhum dos envolvidos conseguem desfazer as suspeitas que pairam sobre eles. Segundo o promotor de Justiça, agora responsável pelo caso, Marcelo Leite, de fato, não há prova que conduza Adriana à inocência. 


Para ele, as provas apresentadas no último julgamento de recurso, em abril, não são incontestáveis. “Isso não é verdade. Eles (defesa de Adriana) tentaram produzir uma contraprova. Mas a principal prova é a delação dos réus, gravadas e filmadas. E tem a relação conflituosa que ela tinha com a mãe”, salienta Marcelo Leite.


O promotor lembra ainda que dois dos réus, Leonardo Alves e Francisco Aguiar, já foram condenados a 60 e 55 anos de reclusão, respectivamente. 


“Gente rica”


“O Leonardo seria o articulador, que teria, em contato com Adriana, trazido os executores, que são Francisco e Paulo”. Agora, ressalta: “O processo do Paulo já está pronto para ir para julgamento. E o da Adriana... Advogado rico. Nos processos de gente rica, os recursos parecem intermináveis”, diz.


O advogado de Adriana Villela diz que não pode responder se o inventário da família foi fechado ou não. Não é ele quem cuida disso, afirmou. No entanto, para o promotor de Justiça, é provável que a herança já tenha, sim, sido dividida entre Adriana e o irmão, Augusto Villela. “Não posso lhe dar certeza. Mas imagino que já terminaram o inventário. Para ela ficar impedida, precisaria de ação de indignidade”, esclarece.


A ação de indignidade, explica ainda, é o meio pelo qual os herdeiros podem excluir o(s) outro(s) da partilha da herança. “No Brasil, o Ministério Público não tem legitimidade para ação de indignidade. E, como o irmão aparenta apoiá-la, enquanto ele estiver apoiando, ela vai receber a herança e, inclusive, pagar o advogado dela com isso”, afirma o promotor.


Disputa de egos nas investigações


Na tentativa de descobrir o quanto antes os culpados pelo crime, a Polícia Civil criou um trabalho em conjunto com três unidades policiais. A ideia, no entanto, não deu certo. 


As investigações do triplo homicídio deixaram em evidência três delegadas da corporação. Martha Vargas, ex-chefe da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), Mabel de Faria, diretora da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), e Deborah Menezes, na época à frente da 8ª DP.


Estranhamento


Em menos de um mês, Martha e Mabel se estranharam. A força-tarefa se dissolveu de vez com a soltura de três suspeitos – por falta de provas – que haviam sido detidos pela ex-titular da 1ª DP. Com isso, Martha saiu do caso, que passou a ser exclusividade da Corvida.


Em dezembro de 2009, o então responsável pela unidade especializada em elucidação de homicídios, delegado Luiz Julião Ribeiro, deixou o inquérito com Mabel. 


As desavenças internas se tornaram públicas com uma investigação paralela conduzida inesperadamente pela 8ª Delegacia de Polícia, no SIA. Em novembro de 2010, a titular da unidade, delegada Deborah Menezes prendeu, em Minas Gerais, o ex-porteiro Leonardo Campos Alves.


Martha acabou exonerada da corporação, com a suspeita, inclusive, de mudar o rumo das investigações para favorecer Adriana. 


Hoje, Martha está aposentada, segundo informou a Divisão de Comunicação da Polícia Civil do Distrito Federal. Débora também se aposentou. Mabel é hoje diretora do Departamento de Polícia Especializada (DPE).


Como estão os envolvidos hoje


Adriana Villela  – Mora no Rio de Janeiro, aguarda julgamento no tribunal do júri. No entanto, ainda cabem mais recursos em seu processo.

Paulo Cardoso  – Está preso. Ele também aguarda julgamento no tribunal do júri. É sobrinho do ex-porteiro Leonardo Campos Alves.

Leonardo Alves  – Foi julgado em 2013. O ex-porteiro pegou pena de 60 anos em regime inicial fechado pelos três homicídios e por furto qualificado.

Francisco Mairlon Barros  – Comparsa de Leonardo e Paulo, foi condenado, também em 2013, a 55 anos pelos três homicídios e furto qualificado.

Rosa Maria Jaques  – A vidente chegou a ser detida em 2010 por suspeita de tentar atrapalhar as investigações abertas com as mortes. Hoje, vive em Porto Alegre e se diz investigadora paranormal na empresa “Visão Paranormal Caça Fantasmas Brasil”.






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