Palma (esquerda) e dorso (direita) dos ossos da mão direita do hominídeo Homo naledi
Em agosto, cientistas descreveram pela primeira vez os fósseis do Homo naledi, uma espécie extinta do gênero Homo, linhagem que culminou com o aparecimento dos humanos modernos. Agora, um segundo conjunto de artigos científicos descreve em detalhes os pés e as mãos do Homo naledi.
Os dois novos estudos, publicados na terça-feira, 6, na revista Nature Communications,
revelam que o hominídeo possuía uma característica única: ele era
adaptado tanto para subir em árvores como para andar sobre duas pernas,
além de ter mãos capazes de manipular objetos com precisão.
Os fósseis do Homo naledi
- mais de 1550 fragmentos de 15 indivíduos -, foram descobertos em 2013
na caverna Rising Star, na África do Sul. Embora não tenham sido
datados, os cientistas acreditam que eles andaram sobre a Terra há cerca
de 2,5 milhões de anos - um período intermediário entre os últimos Australopithecus e os mais antigos membros do gênero Homo.
Os novos estudos foram realizados por uma equipe internacional de
cientistas associada ao Instituto de Estudos Evolutivos da Universidade
de Witwatersrand, na África do Sul.
De acordo com o autor principal de um dos artigos, William Harcourt-Smith, os pés do Homo naledi
têm diversas características semelhantes às dos pés do homem moderno.
Segundo ele, isso indica que o hominídeo era bem adaptado para manter-se
ereto e andar sobre duas pernas. Ainda assim há diferenças em relação
aos pés humanos: os ossos do dedo maior eram mais curvos.
"Os
pés do Homo naledi são muito mais avançados que outras partes do seu
corpo, como os ombros, o crânio e a pélvis. Obviamente, possuir pés
semelhantes aos dos humanos era uma vantagem para essas criaturas,
porque os pés foram a primeira parte do corpo a perder as
características primitivas dos pés de macacos", disse Harcourt-Smith.
Segundo Tracey Kivell, autor principal do outro artigo, as mãos do Homo naledi
revelam uma combinação única de anatomia que não foi encontrada em
nenhum outro fóssil de hominídeos até hoje.
Os ossos do pulso e do
polegar apresentam características anatômicas semelhantes às das mãos
dos humanos e dos Neandertais, indicando que o hominídeo possuía força
para agarrar e capacidade para utilizar ferramentas de pedra.
No
entanto, os ossos dos dedos são mais curvos que os da maior parte dos
fósseis mais primitivos de hominídeos, como o Australopithecus afarensis
- espécie à qual pertence o célebre fóssil Lucy. Isso sugere, de acordo
com Kivell, que o Homo naledi ainda utilizava suas mãos para subir em árvores.
Misturado
Essa mistura de características humanas e de características mais primitivas demonstram, segundo Kivell, que a mão do Homo naledi era especializada tanto para atividades complexas como o uso de ferramentas, como para a locomoção pelo alto das árvores.
"As características das mãos do Homo naledi,
adequadas para o uso de ferramentas, combinadas às dimensões pequenas
do seu cérebro têm implicações importantes para os requisitos cognitivos
necessários para fabricar e utilizar ferramentas. Dependendo da idade
desses fósseis, é possível que eles tenham feito as ferramentas de pedra
que encontramos na África do Sul", afirmou Kivell.
Segundo Harcourt-Smith, o Homo naledi
tem uma combinação única de traços abaixo do pescoço, o que adiciona
mais um tipo de bipedalismo aos registros da evolução humana.
"Havia
muitos experimentos diferentes ocorrendo entre os hominídeos. O percurso
até chegar à maneira como andamos hoje não foi linear. Somos uma
linhagem bastante confusa - e não só em relação aos nossos crânios e
dentes. A história de como andamos também é bastante confusa", declarou.
Como os fósseis do Homo naledi
ainda não foram datados, os cientistas não sabem como inserir essa
forma de bipedalismo na árvore da família humana.
"Independentemente da
idade, essa espécie causará uma mudança de paradigmas na maneira como
nós pensamos sobre a evolução humana. Não apenas nas implicações
comportamentais - que são fascinantes - mas também em termos
morfológicos e anatômicos", afirmou Harcourt-Smith.
Fonte: UOL
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