Em
um marco para a física e a astronomia, cientistas de vários países
anunciaram nesta quinta-feira ter detectado de forma direta as ondas
gravitacionais, ondulações do espaço-tempo que foram previstas por
Albert Einstein em 1915.
"Detectamos as ondas gravitacionais,
conseguimos!", disse entre aplausos David Reitze, físico da Caltech
(California Institute of Technology) e diretor do laboratório Ligo
(Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory).
O anúncio foi feito em coletiva de imprensa realizada em Washington.
As ondas foram detectadas em setembro do ano passado, após 50 anos de esforços, graças aos instrumentos do Ligo.
"Esta
descoberta é o início de uma nova era; a era da astronomia das ondas
gravitacionais já é uma realidade", disse Gabriela González, porta-voz
da equipe Ligo e professora de astrofísica na universidade estatal de
Louisiana.
"Graças a esta descoberta, a humanidade embarca na
maravilhosa exploração dos lugares mais extremos do Universo, onde se
formam objetos e fenômenos pela deformação do espaço-tempo", disse Kip
Thorne, professor de física teórica na Caltech.
"Este passo marca
o nascimento de um domínio inteiramente novo da astrofísica, comparável
ao momento em que Galileu apontou pela primeira vez seu telescópio ao
céu" no século XVII, disse France Cordova, diretora da Fundação Nacional
Americana de Ciências (National Science Foundation), que financia o
laboratório Ligo.
Dois buracos-negros se chocaram há 1,3 bilhão
de anos. O cataclismo lançou estas ondas em todas as direções até que
chegaram à Terra no dia 14 de setembro, onde foram captadas por
instrumentos instalados nos Estados Unidos.
Esta descoberta foi feita em colaboração com equipes de investigação europeias, especialmente de França, Itália e Alemanha.
As
ondas gravitacionais são produzidas por perturbações na trama do
espaço-tempo pelos efeitos do deslocamento de um objeto de grande massa.
Estas perturbações se deslocam na velocidade da luz em forma de ondas e
nada as detêm.
Este fenômeno, previsto por Einstein há um
século, costuma ser representado como a deformação que ocorre quando um
peso repousa sobre uma rede. Neste caso, a rede representa no tecido do
espaço-tempo.
O físico Benoît Mours, do CNRS, considerou que a
descoberta é histórica porque permite "verificar de forma direta uma das
previsões da teoria geral da relatividade".
- Buracos negros
-Por esta descoberta, os físicos determinaram que as ondas
gravitacionais detectadas em setembro nasceram na última fração de
segundo antes da fusão de dois buracos negros, objetos celestes ainda
misteriosos que resultam do colapso gravitacional de estrelas gigantes.
A possibilidade de uma colisão entre esses corpos havia sido prevista por Einstein, mas o fenômeno nunca tinha sido observado.
De
acordo com a teoria geral da relatividade, um par de buracos negros em
que cada um orbita em torno do outro perde energia, produzindo ondas
gravitacionais. São essas ondas que foram detectados em 14 de setembro
do ano passado, exatamente às 13h51 (de Brasília).
Foi um momento inacreditável, contou David Reitze: "Não conseguia acreditar. Era bom demais pra ser verdade".
A
análise dos dados nos permitiu determinar que estes dois buracos negros
se fundiram cerca de 1,3 bilhões de anos atrás. Cada um deles tinha um
tamanho entre 29 e 36 vezes mais massa do que o Sol, com um diâmetro de
apenas 150 quilômetros.
A comparação dos momentos de chegada das
ondas gravitacionais aos dois detectores Ligo (7,1 milissegundos de
diferença) distantes 3.000 quilômetros um do outro, e o estudo das
características dos sinais medidos, confirmaram a detecção.
Os
cientistas sugerem que a fonte das ondas esteve provavelmente no
hemisfério sul do céu, mas um número maior de detectores teria permitido
estabelecer uma localização mais precisa.
"As primeiras
aplicações que vemos agora são para os buracos negros, porque não emitem
luz e não poderíamos vê-los sem as ondas gravitacionais", destacou o
astrofísico David Shoemaker, responsável pelo Ligo no Instituto de
Tecnologia de Massachussetts (MIT), afirmando que por enquanto ainda não
se sabe como crescem estes objetos, presentes no centro de quase todas
as galáxias.
- Explorar o Universo -Portanto, "as ondas gravitacionais podem ajudar a explicar a formação das galáxias", apontou Shoemaker.
"A
gravidade é a força que controla o Universo e o fato de poder ver suas
radiações nos permite observar os fenômenos mais violentos e
fundamentais do cosmos, que de outra maneira seriam impossíveis de
observar", disse à AFP Tuck Stebbins, chefe do laboratório de
astrofísica gravitacional do centro Goddard, da Nasa.
Ser capaz
de detectar essas ondas que viajam sem perturbação por milhões de anos
torna possível voltar para o primeiro milissegundo do chamado Big Bang.
A
descoberta provocou grande emoção na comunidade científica mundial. O
professor de física Tom McLeish, da Royal Society de Londres e da
Universidade de Durham, declarou que esta notícia o enchia de alegria.
"O
último anúncio de importância similar remonta a 1888, quando Heinrich
Hertz detectou as ondas de rádio previstas por James Clerk Maxwell nas
equações sobre eletromagnetismo em 1865", escreveu.
Uma prova
indireta da existência de ondas gravitacionais foi produzida pela
descoberta, em 1974, de um pulsar e uma estrela de nêutrons que giravam
uma em torno da outra em alta velocidade. Russell Hulse e Joseph Taylor
ganharam o Prêmio Nobel de Física em 1993 por este feito.
A descoberta das ondas gravitacionais foi publicada na revista americana Physical Review Letters.
Fonte: UOL
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