Monges que rezavam nos templos incrustados nas Grutas de Ellora, em
Maharashtra, na Índia, estavam rodeados por maconha. De acordo com
estudo publicado na revista acadêmica “Current Science”, antigos
construtores usaram uma mistura de cannabis, cal e argila para revestir e
proteger tetos e paredes.
Os templos, declarados Patrimônio Mundial
pela Unesco em 1983, começaram a ser construídos há cerca de 1.500 anos.
O
complexo é composto por 12 templos budistas, 17 hinduístas e 5
jainistas, que foram escavados na rocha entre os séculos VI e XI. Os
pesquisadores Rajdeo Singh, químico da Archaeological Survey da Índia, e
Milind M. Sardesai, pesquisador da Universidade Dr. Babasaheb Ambedkar
Marathwada, analisaram o material usado como revestimento de um dos
templos.
Com o escaneamento com microscópio eletrônico, espectroscopia
de infravermelho e análises microscópicas, eles encontraram fibras de Cannabis sativa.
A
planta é mais conhecida atualmente por seus efeitos psicoativos, mas a
descoberta aponta para o uso da maconha na arquitetura antiga. De acordo
com os pesquisadores, é possível que a fibra tenha sido escolhida para
ser misturada com cal e argila por sua característica isolante e para
dar resistência à massa.
— A fibra da cannabis parece ter
melhor qualidade e durabilidade que outras fibras — disse Sardesai, ao
site “Discovery News”. — Além disso, a goma da cannabis tem propriedades
adesivas que podem ter ajudado a cal e a argila a formar uma pasta
firme.
Atualmente, a maconha é usada no “hempcrete”, concreto
feito com a fibra da planta. Estudos apontam que o material seja capaz
de sobreviver de 600 a 800 anos, mas os templos das Grutas de Ellora
mostram que a durabilidade pode ser ainda maior, apesar de fatores
hostis do ambiente, como a alta umidade durante os períodos de chuva.
— Ellora provou que apenas 10% de cannabis em misturas com cal e argila podem durar por mais de 1.500 anos — disse Singh.
Por
comparação, a maconha não foi usada nos templos das Grutas de Ajanta,
construções da mesma região, do século II, mas que apresentam sinais
mais agudos de degradação. Segundo Singh, por lá os insetos danificaram
ao menos 25% das pinturas, o que não aconteceu em Ellora.
Segundo
os pesquisadores, habitantes de Ellora no século VI já conheciam
propriedades da maconha como a habilidade de regular a umidade no
interior da caverna, ser resistente a pestes, retardar a propagação do
fogo e as propriedades de absorção d’água.
— Infelizmente, na
Índia a cannabis ficou má falada por causa das propriedades narcóticas —
disse Sardesai. — Mas os artistas antigos conheciam o seu lado bom.
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