sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Equipe divulga rascunho do genoma do neandertal


É apenas um rascunho, mas o anúncio de 63% do genoma do neandertal, hominídeo que sumiu da face da Terra há 30 mil anos, já é suficiente para saber algo sobre essa espécie e, por tabela, ter algumas pistas sobre o motivo de os humanos serem realmente humanos.

A primeira questão respondida, segundo Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, da Alemanha, é a da separação entre os neandertais --que viveram na Europa e em parte da Ásia-- e os seres humanos considerados modernos.

"Essa divergência ocorreu há 500 mil anos aproximadamente", disse o pesquisador ontem, desde Leipizig, em uma videoconferência para jornalistas que marcou a abertura do encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), na cidade de Chicago, com seu famoso vento gelado soprando forte.

Pesquisador segura um crânio de Neandertal

Outra sutil diferença, segundo Steve Pääbo, um dos líderes da pesquisa, que também trabalha no Max Planck, é em relação à mutação de um gene do cromossomo número 2, que regula a resposta à lactose, um açúcar presente no leite.

"Os neandertais [adultos] não eram capazes de processar a lactose. Isso também ocorre com parte dos humanos", disse o cientista, que estará pessoalmente em Chicago no domingo para apresentar seus dados, que ainda não foram publicados em revistas científicas.

A falta de publicação oficial levou Pääbo a esconder algumas informações do seu estudo ontem. "Posso dizer apenas que provavelmente não houve cruzamento entre os neandertais e os seres humanos", afirmou.

Crânio de Neandertal e Homo Sapiens

Além do gene da lactose, os cientistas estudam com mais detalhe o gene FOXP2, ligado à linguagem, e um outro que pode explicar a microcefalia.

"De forma geral, podemos dizer que houve uma pequena contribuição dos neandertais para a variação encontrada na espécie humana", limitou-se a dizer o cientista.

Para chegar ao rascunho do genoma do neandertal, o consórcio europeu, liderado pela Alemanha, determinou a sequência de mais de 3 bilhões de pares de bases.


Contaminação


Um dos grandes desafios da produção do primeiro genoma de um hominídeo extinto foi eliminar a contaminação do material analisado. A maioria dos pares de bases saíram de um fóssil encontrado na caverna de Vindija, na Croácia.

Para se certificar de que o material era mesmo de um neandertal, e não de um micróbio qualquer que estivesse presente sobre o osso, por exemplo, o grupo usou várias outras amostras de localidades da Europa.

Foram usados fósseis encontrados em Sidrón (Espanha), na caverna Mezmaiskaya, que fica na cordilheira do Cáucaso, e no Vale de Neander, em 1856.

Esta amostra alemã, de 40 mil anos, foi a que definiu o nome da espécie. O osso estudado mais antigo, de mais de 60 mil anos, saiu do Cáucaso.

O cuidado com a tecnologia empregada no método teve de ser redobrado depois da contaminação detectada numa análise feita pelo grupo em 2006.

Segundo Pääbo, foram desenhadas etiquetas de DNA com identificadores únicos. E cada uma dessas marcas foi ligada ao DNA ancestral dentro da chamada "sala limpa", um laboratório especial.

A potência dos sequenciadores usados também reduziu a quantidade de osso que teve de ser analisada. Menos de meio grama de osso foi necessário para produzir as bilhões de sequências geradas na pesquisa.

Segundo Pääbo, os próximos dois ou três anos serão fundamentais para que a relação entre neandertais e seres humanos fique ainda mais clara.


Fonte: Folha Online

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