Amigos há 32 mil anos, a milenar relação entre as duas espécies tem estudo apresentado por zoólogos chineses.
Cachorros podem, de fato, ser os melhores amigos do homem porque
compartilham uma história evolutiva em comum muito mais longa do que se
imaginava.
Estudo publicado esta semana na “Nature Communications”
revelou que os cães teriam sido domesticados há 32 mil anos — quase o
dobro do que se acreditava.
Esta duradoura e intensa relação teria,
inclusive, um impacto na genética dos animais e dos homens, que foi
ficando parecida em alguns aspectos.
Na verdade, conclui o estudo, os
cães se auto-domesticaram para serem mais aceitos pelos humanos que, por
sua vez, também se adaptaram aos animais.
Um grupo de
pesquisadores do Instituto de Zoologia da China, coordenados por Ya-Ping
Zhang, obteve o genoma completo de quatro lobos cinzentos de diferentes
pontos da Ásia e da Europa, três cachorros nativos do sudoeste da
China, e três representantes de raças atuais.
Geneticistas confirmaram
que os cães nativos da China representam o primeiro estágio da
domesticação canina — o genoma deles traz informação sobre a transição
de lobos para os cachorros ancestrais, tornando-os uma espécie de “elo
perdido” da domesticação.
Os lobos se auto-domesticaram
A
equipe descobriu também que os lobos apresentam a maior diversidade
genética, enquanto que os cachorros modernos ficam com a menor.
Analisando a quantidade de mutações, os especialistas conseguiram
estabelecer que a separação entre lobos e cães nativos chineses ocorreu
na Ásia, há 32 mil anos.
Diferentemente do que se imaginava, dizem
os cientistas, os homens não adotaram filhotes de lobos. Teria sido bem
o oposto disso.
O processo provavelmente começou com os lobos que
rondavam em torno de populações humanas de caçadores-coletores em busca
de restos de alimento e carcaças, num processo que os pesquisadores
chamam de auto-domesticação.
— A hipótese mais interessante
levantada por essa pesquisa é a auto-domesticação — afirmou Zhang em
entrevista. — De acordo com essa hipótese, os primeiros lobos teriam
sido atraídos para viver e caçar com os humanos. E com sucessivas
mudanças adaptativas, esses animais se tornaram progressivamente mais
propensos a viver com os homens.
Nesta situação, os lobos mais
agressivos teriam se saído muito mal, porque a tendência seria que
fossem mortos pelos homens. Os animais mais mansos, no entanto, teriam
se adaptado melhor e se multiplicado. Ou seja, os lobos se
auto-domesticaram.
A pesquisa conseguiu estabelecer que a
domesticação impôs uma determinante força seletiva nos genes envolvidos
na digestão e no metabolismo — provavelmente por conta da mudança de uma
dieta estritamente carnívora para uma onívora.
Os genes que
governam processos neurológicos complexos também sofreram tal pressão,
sobretudo devido à necessidade de redução da agressão e do aumento de
complexos processos de interação com os seres humanos.
Curiosamente,
o grupo descobriu que a contraparte humana de diversos desses genes,
particularmente aqueles envolvidos nos processos neurológicos, também
sofreram uma forte pressão seletiva ao longo do tempo, refletindo os
fatores ambientais similares vivenciados por homens e cachorros ao longo
de milhares de anos de uma relação tão próxima.
Mais dóceis e mansos
Alguns
dos genes estão associados a doenças similares no homem e no cão.
Outros são ativos na região do córtex pré-frontal, onde os mamíferos
tomam decisões sobre o comportamento.
Alguns genes estão envolvidos no
maior número de conexões entre os neurônios. Um gene em particular, o
SLC6A4, é responsável pela codificação da proteína que transporta o
neurotransmissor serotonina.
— Outros estudos já haviam revelado
que o gene é relacionado ao comportamento agressivo e ao transtorno
obsessivo-compulsivo não apenas em homens mas também em cachorros —
afirmou Zhang.
Mudança semelhante foi também constatada nos homens
— indicando que nós também tivemos que nos tornar menos agressivos para
tolerar os outros e viver bem em grupos.
Para o cientista, o
estudo da base genética de diversas doenças em cães pode ajudar na
compreensão de doenças similares em humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário