quinta-feira, 4 de julho de 2013

Múmias chilenas revelam uso de nicotina







 
O estudo foi feito com base nos cabelos das múmias encontradas na cidade de San Pedro de Atacama, no Chile.


A pesquisa revelou que as pessoas daquela região tinham o hábito de consumir nicotina em um período que compreende de 100 a.C a 1450 d.C.


O consumo de nicotina ocorria independente da esfera social na qual o indivíduo pertencia. Ricos e pobres compartilhavam o mesmo costume. 
 
 
Essa descoberta rebate a visão e cultura popular de que as pessoas que viviam na região de San Pedro de Atacama fumavam tabaco por apenas um curto período de tempo antes de utilizarem drogas alucinógenas.


O co-autor da pesquisa e químico orgânico da Universidade do Chile, em Santiago, Hermann Niemeyer, disse: “Acreditava-se que há 400 d.C, as pessoas daquela região fumavam tabaco em tubos e, em seguida, passavam a inalar uma substância chamada dimetiltriptamina que ficava em bandejas. O estudo mostra que essa afirmação já não é mais correta”.


O hábito de fumar e inalar drogas alucinógenas estavam enraizados na cultura e no pensamento de muitas sociedades pré-hispânicas. 
 
 
Um exemplo disto é que nos Andes, duas fontes de compostos vegetais alucinógenos eram amplamente utilizadas: a nicotina de Nicotiana (o tabaco), e espécies de tryptamine contendo anadenanthera.


Niemeyer acredita que o uso de alucinógenos era comumente utilizado por xamãs, isto é, feiticeiros. Eles fumavam e inalavam essas plantas que possuíam compostos psicoativos para se conectar com os deuses e espíritos. 
 
 
Além disso, em baixas concentrações, essas substâncias também eram úteis como ingredientes para remédios no tratamento de doenças e problemas de sono.



Evidência encontrada nos cabelos das múmias


Niemeyer e seu colega Javier Echeverría analisaram amostras de cabelo de 56 múmias de San Pedro de Atacama. 
 
 
De acordo com Niemeyer, as múmias estavam em boas condições, preservadas em alta temperatura e alta salinidade do solo no deserto, e consequentemente em condições de extrema secura. Dependendo do local, as múmias eram enterradas no solo ou em algum ambiente de pedra feito por eles.


Com as múmias foram encontradas joias, armas, objetos de cerâmica, metais, matérias têxteis vasos e vários apetrechos que eram usados para inalar as substâncias vegetais alucinógenas, além de bandejas e tubos. 
 
 
Era baseado nos objetos encontrados que os pesquisadores classificavam as múmias de acordo com o seu status de riqueza, o que consequentemente revelava a qual grupo social pertencia.


Os pesquisadores descobriram que havia compostos de nicotina nos cabelos de 35 múmias, e todas elas abrangiam as mais diferentes camadas da sociedade, e possuíam diferentes idades. 
 


“A descoberta de nicotina foi definitivamente inesperada.”, declarou Niemeyer ao Live Science.



Os traços de nicotina não foram relacionados ao fato de terem sidos fumados nas tumbas, o que sugeria que fossem os xamãs, já que eles são sempre associados com esses objetos, e não foram os únicos a consumir os alcaloides psicoativos. 
 
 
Além disso, a nicotina presente no cabelo não estava relacionada com a diversidade de objetos funerários ou a presença de colares de pedras valiosas. Já que a substância foi encontrada em múmias que não possuíam objetos de valor em suas tumbas.


A equipe não descobriu vestígios do alcaloide triptamina nas amostras de cabelo, mas isso não quer dizer que eles não faziam uso dessa planta alucinógena. “Quando você inala dimetiltriptamina, o corpo se encarrega de destruí-lo antes que ele chegue aos folículos pilosos”, disse Niemeyer.


Os resultados do estudo concluem que o consumo de nicotina em San Pedro de Atacama, antes da colonização hispânica, ocorreu largamente, por centenas de anos, e foi realizada por todo o tipo de pessoa, independente de seu status social e de riqueza. A pesquisa e os resultados detalhados serão publicados na edição de outubro do Journal of Archeological Science.



Drogas ao longo da História


A questão das drogas e das substâncias tóxicas, como já vimos, não é um costume aprendido no século XX, embora foi nesta época que o seu consumo alcançou maior desenvolvimento. 
 
 
Pode-se afirmar que as drogas vêm acompanhando o homem desde tempos remotos, já que inúmeras referências de plantas de efeitos alucinógenos foram registradas pela literatura contemporânea e comprovadas pela ciência.


Além da nicotina utilizada por povos pré-hispânicos, conheça outras drogas que eram comumente utilizadas na Antiguidade:


Ópio: é o suco coagulado da papoula (Papaver somniferum), está diretamente relacionado ao misticismo, e é conhecido há muitos séculos pelas civilizações asiáticas.


Cocaína: os derivados da coca eram extraídos da folha de seus arbustos (Erythroxylum coca), eram usados pelos Incas como estimulante.


Maconha: a planta e seus derivados como o haxixe e a marijuana, originados da planta cannabis sativa, que eram obtidos a partir da resina de sua floração e do fruto situado na sua parte superior, esteve presente em diversas regiões antigas e foi citado por Homero, que relatou o seu efeito embriagante.


Heroína: era considerada benéfica no tratamento de dores há cerca de 100 anos. Servia como substituto da morfina, já que se dizia não ser viciante. Também serviu como agente no tratamento de asma, tosse e pneumonia.


Cogumelos alucinógenos: são fungos com propriedades alucinógenas, utilizados por diversos povos em suas atividades culturais, bem como drogas recreativas, especialmente por jovens e adultos urbanos que são influenciados por diferentes movimentos culturais. 
 
 
Já na Antiguidade, os textos que relatam o uso desses cogumelos são de origem asteca, copilados pelo padre Bernardino de Sahagún, e referem-se a uma mistura do cogumelo que era ingerido na forma sólida.



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