Pesquisadores identificaram fósseis de 47 répteis voadores pré-históricos que viveram no Sul do País. Quantidade surpreendeu.
Um grupo de pesquisadores brasileiros anunciou nesta quinta-feira,
14, uma descoberta de impacto mundial: eles identificaram um conjunto de
fósseis de 47 pterossauros - répteis voadores pré-históricos - de uma
espécie até agora desconhecida, que viveu há cerca de 80 milhões de anos
na Região Sul do País.
Os fósseis, encontrados no
município de Cruzeiro do Oeste, no noroeste do Paraná, são uma raríssima
ocorrência de pterossauro no interior de continentes. Também é a
primeira vez que esse tipo de réptil pré-histórico é encontrado na
região - até agora só havia registros de pterossauros na Chapada do
Araripe, no nordeste.
O estudo,
realizado por cientistas do Centro de Paleontologia (Cenpaleo) da
Universidade do Contestado em Mafra (SC) e do Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi publicado na revista
PLoS One. A nova espécie de pterossauro recebeu o nome de Caiuajara
dobruskii.
A abundância de indivíduos identificados
entusiasmou os pesquisadores, já que o material ajudará a responder uma
série de perguntas científicas importantes. Tal concentração de
pterossauros só havia sido reportada em outros dois sítios, na Argentina
e na China.
"A descoberta é um verdadeiro tesouro e nos
deixou realmente empolgados. Não apenas por ser uma espécie nova de
pterossauro, mas pela alta concentração. Como encontramos indivíduos de
várias idades, poderemos responder diversas questões sobre sua
evolução", disse Alexander Kellner, do Museu Nacional, um dos autores do
estudo.
Kellner afirmou que a alta concentração de fósseis
de indivíduos garante que todos são da mesma espécie. Por isso foi
possível identificar que se tratava de pterossauros de idades variadas,
apesar da diferença entre os ossos de vários tamanhos. Sem correr o
risco de achar que são espécies diferentes, os cientistas podem aplicar o
mesmo princípio ao estudo de vários outros pterossauros.
"Pudemos
concluir, por exemplo, que esses pterossauros voavam muito
precocemente, já que não havia grandes diferenças morfológicas nas
proporções dos ossos, exceto na cabeça", explicou Kellner.
Elo
perdido. Segundo Kellner, os estudos paleontológicos sobre os
pterossauros são fundamentais porque eles são uma espécie de elo perdido
entre os vertebrados terrestres e os voadores. "Esse grupo de animais
foi o primeiro a desenvolver o voo ativo. Ao estudá-los, podemos tirar
conclusões importantes sobre como os vertebrados que andavam em duas
patas passaram a voar", disse Kellner.
Os fósseis foram
encontrados no leito de uma antiga estrada próxima à cidade de Cruzeiro
do Oeste e em barrancos adjacentes. Segundo Luiz Weinschütz, coordenador
das pesquisas no Cenpaleo, a área deve conter muito mais fósseis do que
os descobertos até agora. "Escavamos 20m² em um sítio que, segundo
nossa avaliação, pode ter cerca de 400m²", disse ele.
Cerca
de 5 toneladas de material foram retiradas do local. Os fósseis estavam
inseridos em camadas de arenito com aproximadamente 1,5 metro de
espessura. Há cerca de 80 milhões de anos, no Cretáceo - pouco depois da
separação entre a África e a America do Sul -, aquela região do
interior paranaense era um imenso deserto. "Esses pterossauros habitavam
as raras regiões úmidas entre as dunas", explicou Weinschütz.
Quando
morriam no entorno desses oásis, os animais ficavam expostos e as
chuvas esporádicas os levavam para o fundo de lagos. "Isso contribuía
para a desarticulação dos esqueletos, tornando o trabalho de coleta e
identificação um imenso quebra-cabeça”, declarou.
De acordo
com Kellner, o tamanho do pterossauro variava de 65 centímetros a 2,35
metros de envergadura (distância entre as pontas das asas). "A qualidade
excepcional e a grande quantidade de fósseis encontrados indicam que
havia uma comunidade de pterossauros no local. Isso nunca foi registrado
em nenhum sítio fossilífero do mundo", afirmou Kellner.
Segundo
ele, os animais tinham hábitos gregários, não tinham dentes e possuíam
um bico voltado para baixo, com cristas, tanto na arcada superior como
inferior.
Fonte: Estadão
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