Fernando Vivas | Ag. A TARDE
Casarão histórico na Ilha de Cajaíba deve virar museu temático
Do cais de São Francisco do Conde, a ilha de Cajaíba avista-se tão
próxima que quase parece possível chegar à pé.
Depois de tomar um
barquinho, que leva pouco mais de cinco minutos, a reação automática é
erguer a cabeça para ver o topo das majestosas palmeiras imperiais que
enfileiram-se à frente da casa. Nasceram muito antes de nós todos que
estamos aqui, com sorte, nos sobreviverão.
A construção histórica foi tombada pelo IPAC em 2004. A fachada, com
dez janelas e escadaria dupla, mantém-se bem preservada. Já andar por lá
é como estar num filme meio de época, meio de terror. Parte do assoalho
do piso e do teto cederam.
Nos poucos móveis que permanecem no casarão,
o estado de conservação é igualmente ruim, fazendo par no quadro geral
de desolação com a sujeira produzida pelos muitos cachorros e gatos que
vivem ali.
Do casarão dá para chegar à Praia do Sodré por uma trilha de cerca de
3,5 Km. O parque ecológico situaria-se nos arredores.
Alguns moradores
da região já a aproveitam, antes mesmo da "inauguração". Apesar da faixa
de areia estreita, o lugar guarda uma beleza bucólica. Para preservar a
impressão, a dica é olhar sempre em direção ao mar, já que nas
proximidades da mata acumula-se todo tipo de lixo.
Na região, corre a lenda de que a ilha é assombrada pelos espíritos dos
escravos torturados impiedosamente por Fernão Rodrigues Castelo Branco,
o primeiro e único Barão de Cajaíba, que dali comandou as tropas
legalistas no processo de independência da Bahia e enfrentou a revolta
da Sabinada.
Os moradores gostam de repetir histórias para provar sua crueldade,
como a vez em que teria entregue numa bandeja os seios de uma escrava
elogiados algumas horas antes por um visitante. O historiador Rodrigo
Lopes acredita que uma parte disso é falação, a outra, não.
"Há um
documento, uma carta da Condessa de Barral, grande senhora da elite
baiana, à Dom Pedro II, na qual ela diz que o Barão de Cajaíba era um
homem de fino trato, mas conhecido também pela truculência com que
tratava os escravos". Ele duvida, porém, que o Barão tivesse o costume
de matá-los afogados, como também se diz, já que eram bens caros.
Bruno Alves, 30, um dos vigilantes do casarão, construído em meados de
1815, jura que já viu fantasma. Numa noite de lua cheia, avistou um
homem se balançando em uma cadeira por detrás da janela.
Sentiu um
arrepio pelo corpo que eriçou a nuca. Com a manga da camisa, esfregou os
olhos. Quando os abriu de volta, o homem não estava mais lá. "O que eu
fiz foi rezar. O morto só precisa disso, de reza".
Se entre os fantasmas
vagar pela ilha o espírito do Barão de Cajaíba, certeza que está
devastado pelo estado da sua antiga casa. Quase dá para ouvi-lo berrando
enfurecido. Nada como o tempo. Não faz mais medo.
Fonte: A Tarde
Um comentário:
Fernao Rodrigues Castelo Branco? Pelas pesquisas, o nome do 1º e unico barao de Cajaiba era Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, sera q fiz confusao?
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