quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

‘Escolas’ do tempo da pedra lascada







 
 
Produção das primeiras ferramentas pode ter levado à evolução da linguagem entre os humanos.
 
 
Quando os ancestrais dos humanos modernos começaram a produzir as primeiras ferramentas a partir de lascas de pedras, há cerca de 2,5 milhões de anos, eles provavelmente também precisaram achar uma maneira de passar este conhecimento adiante, gerando uma pressão evolutiva que teria levado ao desenvolvimento da linguagem. 
 
 
A conclusão é de estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA, e das universidades de Liverpool e de St. Andrews, no Reino Unido, que combinou elementos de psicologia, biologia evolucionária e arqueologia em busca de evidências da coevolução das ferramentas da Idade da Pedra com nossa capacidade de comunicar e ensinar. 
 
 No estudo, os cientistas analisaram o contexto em torno da feitura das chamadas “ferramentas olduvaienses”, os mais antigos instrumentos de corte conhecidos, cujo nome é referência à Garganta de Olduvai, na Tanzânia, África, apelidada de “berço da Humanidade”.


Feitas a partir de choques calculados entre duas pedras de forma a arrancar lascas afiadas de uma delas, estas ferramentas permaneceram praticamente inalteradas por mais de 700 mil anos, tendo sido usadas por ancestrais do Homo sapiens como o Homo habilis e possivelmente também o Homo rudolfensis, o Australopithecus garhi e o Paranthropus boisei até 1,8 milhão de anos atrás, quando começaram a surgir machadinhas e outros instrumentos de pedra mais sofisticados da chamada “Cultura Acheuliana”.


Assim, os pesquisadores liderados por Thomas Morgan, psicólogo da Universidade da Califórnia, decidiram investigar como o desenvolvimento de uma linguagem, ainda que rudimentar, pode ter influenciado o sucesso na transmissão das técnicas de produção das ferramentas olduvaienses durante centenas de milhares de anos.


Para isso, eles recrutaram 184 estudantes da Universidade de St. Andrews, que foram divididos em cinco grupos. Um estudante de cada grupo era então ensinado por um arqueólogo a fazer as ferramentas; deveria passar este conhecimento para o seguinte e assim por diante, formando cada grupo uma cadeia de aprendizado com diferentes características.



Gestos e indicações



No primeiro grupo, os estudantes só recebiam as pedras e alguns exemplos de lascas, devendo produzir outras por conta própria num tipo de “engenharia reversa”. No segundo, eles aprendiam a fazer as ferramentas só observando o outro estudante e tentando imitá-lo. No terceiro, o “professor” podia mostrar, sem gestos, como estava trabalhando.


Já no quarto, eram permitidos gestos e indicações, mas não falar, enquanto no quinto e último o “professor” também podia dizer ao outro estudante o que fosse necessário. O experimento mostrou que só nos grupos em que foram permitidos gestos e conversas o desempenho dos “alunos”, medido pelo número de lascas afiadas produzidas e pela quantidade de batidas necessárias para isso, foi significativamente maior do que no da engenharia reversa.


— Nossos achados sugerem que as ferramentas de pedra não foram só produtos da evolução humana, mas na verdade também a guiaram, criando a vantagem evolutiva necessária para o desenvolvimento da comunicação e do aprendizado dos humanos modernos — considera Morgan, que reconhece que os antigos ancestrais humanos “provavelmente não estavam conversando”, mas já estariam criando algum tipo de “protolinguagem” usando sons e gestos para indicar ideias simples como “sim” e “não”, “aqui” e “ali” e “bom” e “ruim”. — Se alguém está tentando aprender uma habilidade com muitas sutilezas, ajuda ter um professor que o corrija. Aprende-se muito mais rápido quando alguém está lhe dizendo o que fazer.

 
 
 
 
Fonte: O Globo

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...