quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Poro: descubra alguns mistérios desta rigorosa sociedade secreta africana





Poro é uma sociedade secreta masculina — pense em uma espécie de maçonaria africana — cuja influência é muito forte em países como a Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim e Guiné. Sua origem está associada com a cultura dos povos mandê, que chegaram à África Ocidental há mais de mil anos.


Atualmente, a Poro é responsável por governar a população nativa e regulamentar as atividades políticas, sociais e culturais de seus membros. 
A organização conta com poder suficiente para impor suas leis e códigos mesmo contra a vontade dos integrantes com menos poder de decisão e dos governantes tradicionais, e são seus chefes quem decidem sobre questões relacionadas com a fertilidade na agricultura e o treinamento militar.


Contudo, seu principal papel é religioso, e um dos objetivos da Poro é o de controlar os espíritos e garantir que sua intervenção nos assuntos dos homens seja benéfica. 
Depois de aceitos pela sociedade, os novos membros são introduzidos a segredos religiosos e aos poderes da bruxaria. Os integrantes são proibidos de revelar o conhecimento que recebem durante as reuniões e rituais. Quem não obedecer às regras pode ser condenado à morte. 

Reuniões


Devido ao voto de segredo que os membros devem fazer ao serem aceitos na Poro, não existem muitos detalhes sobre o que acontece durante as reuniões, mas sabe-se que essa sociedade é estruturada em hierarquias e conta com dialetos, rituais, marcas e símbolos próprios. 
Além disso, os encontros geralmente ocorrem durante a estação seca — entre outubro e maio — em locais sagrados das florestas próximas aos vilarejos.


Durante as reuniões que ocorrem nos lugares sagrados, os membros costumam discutir assuntos relacionados com a comunidade, e tais encontros são proibidos para quem não é membro. As cerimônias são presididas por um chefe — uma espécie de Grão Mestre — trajando roupas e acessórios ritualísticos.


O traje cerimonial costuma ser composto por uma grande máscara ou adorno para a cabeça feito de madeira e um cajado, e essas peças frequentemente são enfeitadas com crânios e outros ossos humanos, pertencentes a antigos líderes do grupo. 
Além disso, o chefe se dirige ao grupo falando através de um longo tubo de madeira que distorce sua voz. Em algumas regiões, mulheres e crianças podem comparecer às reuniões, mas, nessas ocasiões, o chefe não aparece com os apetrechos ritualísticos. 

Estrutura e ritual de passagem


Existem três níveis de hierarquia na organização, sendo que o primeiro deles corresponde aos chefes, o segundo aos sacerdotes ou feiticeiros e o terceiro aos demais membros do grupo. 
Os integrantes da Poro são responsáveis por organizar o ritual de passagem que prepara meninos e adolescentes para a vida adulta, e esse rito envolve passar alguns dias em isolamento em um acampamento na floresta.


Durante esse período, os meninos recebem ensinamentos morais através de canções tradicionais e histórias que enfatizam valores como solidariedade e respeito pelos mais velhos. 
Além disso, os meninos que ainda não forem circuncisados passam por esse procedimento no início da reclusão e recebem um nome Poro. Ao final do ritual de passagem, os participantes são submetidos a uma série de testes e experiências para provar sua masculinidade.


Antigamente, os meninos também recebiam o sinal da sociedade secreta nas costas e ombros através de cortes ritualísticos que deixavam cicatrizes, mas essa prática está caindo em desuso. 
Já para que um integrante se torne mestre, é necessário pagar uma taxa, assim como passar por um período de treinamento no uso de poções medicinais e passar por um ritual de iniciação realizado por alguém que já ocupe a posição de chefe. 

Só para mulheres também

Assim como a Poro, em Serra Leoa também existem as sociedades secretas Yassi e Bundu, que são reservadas apenas para mulheres. Para fazer parte da Yassi — que permite a presença de membros da Poro em algumas cerimônias —, as integrantes precisam necessariamente fazer parte da Bundu primeiro, que é exclusivamente feminina. Na Libéria, essa sociedade secreta estritamente feminina recebe o nome de Sande.


Em alguns países, a Bundu e a Sande tiveram que reformular algumas de suas práticas para acomodar as exigências da sociedade atual, mas, mesmo assim, elas continuam exercendo forte influência nas áreas onde se encontram e suas proibições são estritamente respeitadas. 


Com respeito aos rituais de passagem envolvendo as sociedades secretas femininas, durante o período de reclusão, as meninas aprendem sobre rituais religiosos e podem passar por algum tipo de mutilação genital, mas essa prática — por sorte — está deixando de ser seguida em algumas regiões.



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