sexta-feira, 14 de agosto de 2015

'Pichação' em caverna chinesa conta a história de 500 anos de mudanças climáticas na região






 
 
Encontradas por pesquisadores na caverna Dayu, região central da China, inscrições deixadas por diferentes povos permitiram a comparação de registros geológicos e históricos para previsões.
 
 
Um grupo de pesquisadores de universidades da China, Reino Unido, entre outras, descobriram uma série de peculiares "pichações" no interior de uma caverna da região central da China que descrevem mudanças climáticas pelas quais a região passou nos últimos 500 anos. 
 
 
Combinadas com a análise química das estalagmites da caverna, as informações permitiram a pesquisadores, pela primeira vez, conduzirem uma comparação dos registros geológicos e históricos sobre o clima de uma mesma região.
 
 Os resultados do trabalho foram publicados no periódico científico "Scientific Reports" e apontam para uma potencial redução das chuvas em um futuro próximo, ressaltando a importância da implementação de estratégias para lidar com um contexto de frequentes secas.Encontradas nas paredes da caverna Dayu, nas montanhas Qinling, as inscrições descrevem os impactos de sete secas ocorridas entre 1520 e 1920.


O clima ao redor da caverna é dominado pelas monções de verão, marcados pela concentração de cerca de 70% das chuvas anuais em um período de apenas alguns meses.


— Para além dos impactos óbvios das secas, elas também se relacionam com a queda de culturas inteiras. Quando as pessoas não têm água suficiente, tempos difíceis são inevitáveis, e conflitos ocorrem — afirmou Sebastian Breitenbach, do departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, e um dos co-autores do trabalho. — Na década passada, registros encontrados em cavernas e lagos mostram que é possível traçar um paralelo entre as mudanças climáticas e o fim de várias dinastias chinesas durantes os últimos 1.800 anos, como as dinastias Tang, Yuan e Ming.


Os registros na caverna Dayu mostram que os residentes da região iam ao local para conseguir água e rezar por chuva nos períodos de seca. Uma das inscrições descreve:


"Em 24 de maio do 17º ano do período do Imperador Guangxu, dinastia Qing, o prefeito local, Huaizong Zhu, liderou mais de 200 pessoas à caverna para pegar água. A vidente Zhenrong Ran rezou por chuva durante a cerimônia".


Outra inscrição de 1528 informa:


"A seca ocorreu no 7º ano do período do Imperador Jiajing, da dinastia Ming. Gui Jiang e Sishan Jiang vieram à cidade Da'an para conhecer o Lago Dragão dentro da caverna Dayu".


— Há exemplos de restos humanos, ferramentas e artesanatos encontrados dentro de cavernas, mas é excepcional encontrar algo como essas inscrições datadas. Combinadas com evidências das formações físicas da caverna, as inscrições foram cruciais para a nossa confirmação da ligação entre o clima e os registros geotérmicos da caverna, e o efeito da seca na paisagem — afirmou Liangcheng Tan, do Instituto do Ambiente da Terra na Academia de Ciências Chinesa, em Xi'an, e um dos líderes do estudo.


Os pesquisadores removeram seções das formações da caverna, ou espeleotemas, e analisaram os isótopos estáveis e os elementos neles contidos. Eles descobriram que as concentrações de certos elementos se correlacionavam fortemente com os períodos de seca, o que poderia então ser verificado por referência cruzada o perfil químico das escritas nas paredes da caverna.


Quando cortados, os espeleotemas, assim como as estalagmites, freqüentemente revelam uma série de camadas que registram o seu crescimento anual, assim com os anéis de árvores.


Utilizando espectrometria de massa, os investigadores analisaram e dataram as proporções dos isótopos estáveis de oxigênio, carbono, bem como as concentrações de urânio e outros elementos. As mudanças no clima, nos níveis de umidade e na vegetação circundante afetam esses elementos, uma vez que a água que escoa para dentro da caverna está relacionada com a água na superfície.


Os pesquisadores descobriram que o razão de oxigênio e de isótopos de carbono mais elevados, em particular, correspondeu-se com os níveis de precipitação mais baixos, e vice-versa. Eles então usaram seus resultados para construir um modelo de precipitação futuro na região, começando em 1982.


Seu modelo é correlacionado com uma seca que ocorreu na década de 1990 e sugere outra seca no final dos anos 2030. As secas observados também correspondem ao ciclo El Niño-Oscilação Sul (ENOS). Devido à probabilidade de que a mudança climática causada pelo homem fará dos eventos ENSO mais graves, a região pode estar enfrentar secas ainda mais graves no futuro.





Fonte: O Globo

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