Ferramenta
feita a partir de pedra encontrada no Chile com idade entre 15.000 e
16.000 anos - objeto foi utilizado para carpintaria
A arqueologia moderna pode ser sacudida outra vez por descobertas
recentes no Chile. Novas escavações feitas no Monte Verde, famoso sítio
arqueológico no sul do país sul-americano, indicam que humanos nômades
habitaram ou ao menos passaram pela região há até 18.500 anos.
A
pesquisa contraria uma visão tradicional no mundo científico: de que as
primeiras migrações para a América do Sul ocorreram não antes de 14.000
anos atrás. Tal pensamento tem sofrido questionamentos nos últimos 40
anos, entretanto.
Os novos desdobramentos de escavações na
região foram divulgados por Tom Dillehay, da Universidade de Vanderbilt,
na revista científica PLOS One, em 18 de novembro. Em parceria com
colegas de diferentes países do mundo e áreas (geógrafos, botânicos e
arqueólogos), Dillehay trabalha na região desde 1977.
O anúncio de agora
é mais um de outros já feitos oriundos de pesquisas no Monte Verde e
que desafiaram o que os cientistas conhecem sobre os antigos fluxos de
pessoas.
A razão que levou os cientistas a colocarem em dúvida a
história da povoação sul-americana é o achado de objetos utilizados por
humanos na região em um período de 4.000 anos que engloba pelo menos
entre 18.500 e 14.500 anos atrás. As novas descobertas no Chile incluem
39 artefatos de pedras, nove deles com idade entre 18.500 e 17.000 anos.
Há ainda quatro pedras retiradas de solo com 25.000 anos que precisam
de mais evidências para serem contabilizadas. As idades dos objetos
foram descobertas graças a medidas de carbono e análise do solo onde
foram escavados.
Os achados sacodem ainda mais a famosa "cultura
Clovis", teoria que por muito tempo ficou em voga no âmbito da
arqueologia. De acordo com ela, os primeiros povos teriam entrarado no
continente americano durante caças pelo Estreito de Bering, uma ponte de
gelo na América do Norte entre a Sibéria e o Alaska, há no máximo
13.500 anos, e depois se espalharam para outras regiões.
Achados perto
da cidade de Clovis, no Novo México, nos Estados Unidos, fizeram tal
teoria surgir. As descobertas do Chile, paulatinamente, transformam o
pensamento sobre as migrações.
A maioria das ferramentas
encontradas recentemente no Chile servia para raspar e cortar outros
objetos, de acordo com os pesquisadores. Algumas pedras redondas
poderiam ter sido utilizadas como estilingues.
Ainda foram encontrados,
na região da escavação, restos de animais cozidos, além de evidências de
plantas e fogueiras. Todas as ferramentas encontradas diferem das
utilizadas pelos povos da "cultura Clovis". Também de acordo com a
pesquisa, 34% dos objetos achados não eram locais, o que indica uma
população altamente móvel.
Anteriormente, a descoberta nos anos
70 de um fóssil datado de 13.000 anos em Minas Gerais, apelidado de
"Luzia", já mostrava a presença de humanos na América do Sul fora da
chamada "cultura Clóvis".
As descobertas de Dillehay e sua equipe foram
recebidas com certo ceticismo pela comunidade científica, mas os novos
dados devem dar mais força à teoria de que o continente foi habitado
antes do que se imaginava.
É possível que, a partir da
informação divulgada pela equipe que trabalha no Monte Verde, outros
fósseis mais antigos sejam encontrados.
Os pesquisadores alertam que os
arqueólogos devem ficar atentos a ferramentas simples e acampamentos
pequenos, ao contrário dos já encontrados que descendem da "cultura
Clovis", que normalmente ocupavam grandes áreas e continham instrumentos
mais desenvolvidos.
Fonte: UOL
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